Relato da vivência no PROJETO JARDIM DO AMANHÃ



Século XXI ou será da espiritualidade ou não o será¹

Sábado fui a campo conhecer um novo projeto. Novo apenas para mim, pois já existe há 15 anos no Morro do Salgueiro.




“Estou na comunidade do Morro do Salgueiro desde 1997 atuando com intervenções voluntárias para apoiar, mesmo em pequena escala, o desenvolvimento social, cultural, físico e espiritual de crianças, jovens e adultos desta comunidade.

Há cerca de 6 anos fundei com um pequeno grupo de amigos (Renata Sola, André Amorim e Cláudia Marques) o Projeto Jardim do Amanhã, e adquirimos um terreno na comunidade com o intuito de construir uma sede onde poderíamos implementar as atividades que já desenvolvíamos, além de tentar oferecer serviços a comunidade, como oficinas culturais, artísticas e esportivas, e buscar oferecer consultas médicas em dias específicos com médicos voluntários.

As obras estacionaram na fundação, e a pequena verba que conseguimos nos levou até um alicerce quase terminado.

Enfim, temos um terreno, uma incipiente construção, dezenas de crianças ao redor, um local de natureza exuberante, muito serviço a fazer, e pouquíssimos recursos materiais para caminhar mais rápido. 

Todas as tardes de sábado estamos por lá, utilizando o espaço interno da Escola Municipal Bombeiro Geraldo Dias, há 15 anos, por gentileza da diretora, porém, com muita vontade de termos um espaço próprio para melhor atender melhor e mais crianças da comunidade”.

Esta é a história de Marcelo Esquilo no Morro do Salgueiro, Zona Norte do Rio, a favela foi pacificada em setembro de 2010 e Esquilo começou seu trabalho voluntário lá em 1997.

Para mim ERA apenas mais um amigo triatleta, Mestre da Universidade Gama Filho, com o qual já dividimos (eu e meu marido) algumas manhãs de sábado, com muito treino, sempre em família e com mesa farta de café da manhã, em sua já tradicional barraca no Posto 6. 


Lá, reúne alunos da universidade para as aulas práticas do curso de natação no mar e de stand up padle e atletas da assessoria esportiva que mantém preparando-os para provas de triathlon, Ironman, travessias aquáticas, etc.


Esquilo, por meio de um pedido de ajuda para terminar de construir a sede do seu legítimo Projeto Jardim do Amanhã, criou conexões com várias pessoas. As relações e conexões que fazemos aqui entre os humanos, também existem no ambiente natural, reservadas as proporções e no campo energético e espiritual, para aqueles que acreditam.


O pensador francês André Maurois disse que se neste século não nos tornarmos mais espiritualizados, humanizados e éticos o século não o será.

Este planeta que nos acolhe, por exemplo, é a nossa casa, quando falamos em ecologia, falamos em estudo da casa, da nossa casa! Homem, natureza, entradas e saídas de energia, essa  economia que nos move, também move a natureza. Tudo está interligado na natureza, o fluxo de alimento das plantas nos fornece o ar e assim vamos criando interdependências, conexões sistemáticas.


No plano das relações humanas, essas conexões hoje unem pessoas com ideais em comum e questionamentos que as movem para modificar alguma realidade.

E para onde olhamos vemos uma realidade distorcida, rejeitada. De fato o modelo econômico e político em que vivemos foi cunhado em 1992, durante a Conferência Internacional da ONU sobre Meio Ambiente no Rio, como sendo:
  • ·         Ecologicamente predatório;
  • ·         Socialmente perverso;
  • ·         Politicamente injusto.

Se este resultado mostrado há vinte anos na Eco 92 reflete o que nós e nossos pais e avós veem fazendo, pela lei de causa e efeito o desperdícios, o aumento das diferenças sociais e entre as minorias, e uso irresponsável dos recursos naturais praticados por nós hoje, continuará a ter implicações no futuro. 

Para quem acredita em reencarnação essa não parece uma tradução satisfatória do processo evolutivo.  O pensamento de Maurois passa por essa lógica.

É evidente que, mesmo não estando mais aqui temos que nos preocupar com o nosso rastro, mas mais importante do que cuidar do planeta para nossos filhos e netos é cuidar melhor dos nossos filhos e netos para o planeta.

E foi esse tipo de cuidado para o bem que presenciei no Jardim do Amanhã, um local onde as janelas de oportunidades precisam ser literalmente construídas em comunhão. O local não tem sede própria, usa o pátio cedido pela Escola Municipal Bombeiro Geraldo Dias.

Esquilo, mais uma vez fez de suas conexões um instrumento para ampliar o impacto na comunidade. Pediu ajuda aos amigos para terminar de construir a sede do projeto. Tive a honra de ser a primeira da rede a conhecer a tecnologia social do Esquilo, mas o foco dele é mesmo erguer uma estrutura própria para atender as crianças, jovens e adultos. 


Essa construção pode ter elementos de ecoeficiência, para diminuir custos, capacitar a comunidade para a construção e soluções de baixo custo e sustentáveis, conscientizar todos e promover melhoria nas atividades, sócio, culturais, esportivas e artístico-filosóficas, atraindo mais jovens e crianças para os encontros.

O que vi por lá foram essas e muitas outras oportunidades no entorno. Não pude deixar de notar a vocação para negócios voltados para o turismo que dependam da qualidade ambiental da floresta que envolve a comunidade, colocando a todos ali para se beneficiarem da natureza e tornando-os assim mais, fortalecidos, conscientes  da necessidade de que manter a floresta em pé e limpa e de que isso poderá gerar emprego e renda, até a possibilidade de ter uma agricultura ecológica.

No Rio, vivemos um momento propício para projetos pertinentes como este. O mundo reconhece o Brasil como um protagonista global, mas é preciso muito trabalho e perseverança, foco e disciplina para erguermos a nova economia. Essa que será discutida na Rio+20.



Pessoas como Guilherme, que começou aos 13 anos nas aulas de capoeira do Esquilo e que hoje é um empreendedor comunitário, preocupado com as belezas naturais únicas que podem deixar de existir se não cuidarmos hoje, tem consciência, uma história de vida incrível e muita disposição para aproveitar as oportunidades.

Semana que vem marcamos com Guilherme uma caminhada na trilha conhecida por ele. Pela mata, chegaremos a um tipo de açude que ele quer preservar para as futuras gerações.

“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores, se não houver flores, valeu a sombra das folhas, senão houver folhas valeu a intenção da semente”. Henfil, já destacava o poder e o valor das boas intenções.


¹Frase de André Maurois – Ex-Ministro da Cultura da França e pensador
Palavras chaves : Conexão, local action, foco, perseverança, transformação, ética, trabalho.

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