ESTÁGIO ATUAL DA GESTÃO AMBIENTAL EM EMPRESAS NO BRASIL
Hoje, constatamos que as empresas brasileiras, ou mesmo aquelas instaladas aqui, mas com sede em outros países, estão empenhadas na busca por uma maior e constante sintonia com o conceito de sustentabilidade, conciliando suas necessidades econômicas, sociais e ambientais, elas criam um diferencial competitivo no mercado tornando cada empresa um microcosmo capaz de se reinventar para prosperar não só no presente, mas no longo prazo também.
A busca pela sustentabilidade tem muitas frentes e não é um processo recente. Desde o surgimento do capitalismo que o lucro é o objetivo final dos empresários. Reconhecer que o papel da empresa no mundo vai além de resultados financeiros requer mudanças organizacionais profundas que atingem todos os setores da instituição.
O modelo capitalista ocidental começou a ser revisto no século XIX seguindo o viés da filantropia corporativa. Segundo os autores de “Administração”, James Stoner e Edward Freeman (1999, pg 72), naquela época, o investimento na imagem era regido pelos princípios da caridade e da custódia e visavam exclusivamente à maximização do lucro em favor dos sócios.
De fato. Karkotlie e Sueli Aragão identificam no livro “Responsabilidade Social: contribuição à gestão transformadora das organizações” o case do empresário A. Carnigie, em 1899, como a primeira abordagem referente à responsabilidade social nas grandes corporações. Carnigie, fundou o conglomerado U.S Stell Corporation e aderiu às práticas de responsabilidade social consideradas ainda paternalistas e assistencialistas (Stoner), pois a obrigação restringia-se apenas a proprietários e administradores, e não propriamente as empresas de forma sistêmica.
Esta visão de gestão centralizada, em que as decisões estavam concentradas na mão dos “homens de negócio”, começou a demonstrar suas fragilidades. Foi quando em 1932, motivados pelo resultado do Julgamento entre Dodge X Ford, que Berle e Means publicam “The Modern Corporation and Property”, num cenário que demonstrava um esforço urgente do mundo para se erguer após a Grande Depressão e pós-guerra.
O estudo de Berle e Means alertou para as deficiências do capitalismo gerencial, concluindo que a discricionariedade e a falta de ética, que chamaríamos hoje de falta de governança e transparência, dos dirigentes de empresas precisaria ser revista neste momento de retomada.
As organizações, impulsionadas pelas necessidades de crescimento e lucro a qualquer custo, começaram a enfrentar as conseqüências das suas atividades econômicas. Mas foi só entre as décadas de 50 e 60, que as pressões da sociedade se intensificaram, principalmente com o início da Guerra do Vietnã e a fabricação de armamentos bélicos prejudiciais ao homem e ao meio ambiente.
Com isto, uma nova concepção de comprometimento social emergiu, pautada pelo reflexo dos objetivos e valores sociais atribuídos às empresas. Começava a se desenvolver e a se incorporar às estratégias de gestão das organizações a necessidade de se medir o que produziam, como produziam e o que vendiam e seus impactos no meio ambiente e humano. Para Karkotlie e Aragão estava sendo criado um novo paradigma da responsabilidade social pós-guerra do Vietnã.
Após o advento da responsabilidade social nas empresas a natureza e o homem começaram a dar sinais de que as atividades econômicas ultrapassavam a capacidade de carga e os custos ambientais começaram a dar os primeiros alertas.
Uma das primeiras manifestações de conscientização sobre os problemas ambientais provocados pelo desenvolvimento desequilibrado aconteceu aqui no Brasil em 1862, na Floresta da Tijuca. Na época, D.Pedro II foi motivado a ordenar o primeiro reflorestamento do país por causa da escassez de água nos afluentes dos rios da Floresta, provocada pelo desmatamento para instalação das lavouras de café, e agravada pela falta de chuvas.
O reflorestamento durou 10 anos. A Floresta situada no Rio de Janeiro talvez não tivesse sido elevada à Reserva da Biosfera, em 1991, não fosse nosso imperador perceber o impacto do Ciclo de Café naquele bioma.
Nesse contexto as empresas começaram a incluir a responsabilidade ambiental aliada à social. Nos últimos anos as mudanças climáticas tem sido uma ameaça real a ser contida. Com o aquecimento global o mundo se volta para a questão da importância da biodiversidade.
Este ano a ONU elegeu 2010 o ano internacional da biodiversidade e foi pauta do encontro em Nagoya, no Japão que reuniu 193 países para discutir como promover o uso sustentável da flora, fauna, dos conhecimentos tradicionais e como recuperar áreas já degradadas.
Para cumprir com os novos compromissos, idealizados para combater o aquecimento global que provoca eventos naturais extremos e compromete o equilíbrio da biodiversidade, os governos precisarão da ajuda das empresas.
Entretanto, segundo Roberta Simonetti, coordenadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, “ainda é baixo o envolvimento das empresas na conservação da biodiversidade, mas o valor econômico dessa riqueza já começou a ser quantificado. Isso vai aumentar o interesse delas no tema”.
O Guia de Sutentabilidade 2010 publicado pela revista Exame aponta que entre as 143 empresas participantes 69% afirmaram ter alguma ação relacionada à biodiversidade. A natureza entrega água limpa e a polinização das plantas para o homem e isto tem um valor econômico, este é o princípio dos serviços ambientais que empresas brasileiras começam a se apropriar, aliando aos interesses de manter o seu próprio negócio vivo e lucrativo no futuro.
A Boticário, a Coca-Cola, a Ambev, o Banco HSBC, são empresas que buscam envolver toda a empresa nos processos de mudanças rumo a negócios mais sustentáveis. Apesar de muitos avanços as empresas ainda têm muito o que conquistar inclusive na área de equidade de remuneração dos cargos ocupados por mulheres e em termos de reduções dos GEE´s. Poucas empresas medem suas emissões voluntariamente, sem medir fica difícil gerir.
O estudo abaixo aponta como anda o mercado brasileiro empresarial e o que vem fazendo as empresas que se anunciam sustentáveis. De fato há um aumento significativo das certificações ambientais e de sistemas de gestão integrados, contemplando, inclusive, a Segurança e Saúde Ocupacional e a Responsabilidade Social, reforçando o relevante papel das empresas no desenvolvimento e consolidação da sustentabilidade no país.
Outro fator de destaque é a iniciativa voluntária das empresas, e conseqüentemente de seus colaboradores e todos os demais grupos de stakeholders, em fazerem a mitigação, compensação e inventário das emissões de GEE – gases de efeito estufa – de suas atividades.
Para compor o estudo tomamos como base o conceito de empresas sustentáveis apresentado pelo Inventário Socioambiental do Brasil publicado em 2009.
Em termos de Brasil alguns cases são interessantes mostrar, para fundamentar esta introdução.
A AREVA Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica, localizada na Avenida Interlagos, 4211 – São Paulo, SP é a 4ª empresa dos setor no Brasil e está presente em mais de 100 países, determinou a todas as suas unidades de negócios que se adequassem às normas ISO 9001, ISO 14001 E OHSAS 18001. Para a unidade Brasil o sucesso de um Sistema de Gestão está na conscientização dos colaboradores, que de forma direta e indireta, interagem com as atividades desenvolvidas na empresa que tem impacto no meio ambiente. Para fortalecer o comprometimento dos trabalhadores com as questões ambientais a empresa criou vários canais de comunicação para instruir e treinar seus funcionários.
Nesse sentido, a sustentabilidade tem trazido à tona a necessidade de uma comunicação mais afetiva, subjetiva no sentido de falar com e para o sujeito como pessoa. Uma Comunicação distinta da instrumental, uma comunicação pós-ação e mais ética.
O processo de comunicação empresarial mais ético começaria focada no público interno, valorizando o empreendedorismo corporativo e incentivando idéias inovadoras, transformando a iniciativa e em “acabativa”, sempre seguindo os valores do desenvolvimento sustentável em suas diversas dimensões.
Em seguida, é importante mensurar as respostas que as mudanças deram à saúde da empresa e de seus stakeholders, seguindo o ciclo planejar, aplicar, mensurar e avaliar (PDCA) e só depois comunicar para construir uma sólida reputação junto aos públicos externos.
A boa e transparente Comunicação ajuda em todo o processo de assimilação das condutas éticas e princípios morais, além de reforçar o sentido democrático das conexões, das alianças, das conquistas transformando o atual e imenso acúmulo de crises em novas oportunidades, em um futuro que faça sentido.
A respeito desse futuro o Professor Euriques, coordenador do curso de Comunicação Social da Universidade do Rio de Janeiro, tece seus comentários:
“Um futuro fundado em valores comunais, que garantem a coesão social. E, como todo futuro, ele é sempre construído agora, pelo poder do pensamento claro, complexo e focado: por uma Mente Sustentável”.
Como não temos conseguido Sustentabilidade como a precisamos a teoria do Quarto Bottom Line, criada em 2005, por Euriques, o ponto cego do Triple Bottom Line, tem ajudado empresas como a Areva a enxergar a Comunicação Corporativa como elemento determinante para o sucesso de uma estratégia que queira elevar a empresa ao patamar da ética e da sustentabilidade.
No setor financeiro brasileiro, vários bancos merecem destaque entre eles o Itaú, recentemente esteve presente na 14ª Conferência sobre Reputação empresarial que aconteceu no Rio de Janeiro, em outubro no Sofitel de Copacabana. Lá a instituição falou de suas estratégias e desafios dos setor para alcançar os três P`s (People, planet and profit). Novamente o fator internalização estava presente. Permear o conceito de sustentabilidade e engajar o público interno foi o primeiro passo do Itaú, seguido de incentivo ao uso responsável do crédito e o consumo consciente e transparência com os clientes, além de ter sido um dos primeiros bancos brasileiros a adotar ”Os princípios do Equador”
Os Princípios do Equador (PEs) são encarados como o "padrão ouro" na gestão dos riscos sociais e ambientais para o financiamento de projetos no setor financeiro. Houve um crescimento significativo do número de adotantes EPs desde a sua criação em 2003, crescendo dos iniciais dez a mais de 65 instituições financeiras de todo o mundo, respeitando os EPs de forma voluntária.
O Itaú pretende continuar o processo e identificar os desafios e oportunidades futuras, a fim de abordar estas questões de forma eficaz, em parceria com os clientes, e ouvindo todas as perspectivas das partes interessadas. Num modelo conhecido por eles como TODOS PELO CLIENTE, de construção permanente da reputação envolvendo a empresa; o mercado; a sociedade e o planeta.
O Santander criou oficinas de sustentabilidade para funcionários como uma das primeiras ações que feitas internamente no movimento de inserção do tema na organização. Em 2003, formatou cursos de 8 horas em que todos aprendiam conceitos básicos, refletiam e elaboravam planos para colocar a sustentabilidade em suas rotinas, dentro e fora do trabalho. Esses cursos foram fundamentais para que cada vez mais pessoas conhecessem e aplicassem o tema, apoiando a criação e desenvolvimento de muitas ações no dia-a-dia dos participantes.
Todas essas informações demonstram que, apesar das crises que o planeta tem enfrentado nos últimos anos, o segmento ambiental brasileiro vem se consolidando e se destacando no mercado global.
Por isso tudo, consideramos que as empresas brasileiras são exemplos bem sucedidos de que é possível aliar desenvolvimento econômico com a redução do impacto ambiental e com isso faz-se um promissor campo para novos gestores ambientais trabalharem na busca da melhoria continuada do desempenho empresarial brasileiro.
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