Nós Digitais I - Projeto ESPM 2010
Comunicação e o aparecimento da Vida
Até o próximo!
O debate foi sobre CONTEMPORANEIDADE E O IMPACTO DAS NOVAS MÍDIAS e aconteceu no Teatro OI Casa Grande, Leblon Rio de Janeiro. O local, segundo o coordenador do Projeto Vinícius Andrade Pereira, foi escolhido por trazer a idéia de “grande meio, multimídia e interativo, uma grande rede que ampara e ao mesmo tempo constrange, metáfora de NÓS mesmos”.
Nesta primeira etapa do Projeto, a comunicação foi estudada sob o instigante olhar da ciência, resgatando o aparecimento da vida e as sínteses que resultaram na sua origem. A palestra “A comunicação como troca de informações físicas” foi ministrada por Luiz Alberto de Oliveira, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas da UFRJ.
O físico primeiro analisa a comunicação como um processo, um sistema em que há o emissor, o meio onde ocorre o FLUXO de mensagens e o receptor. As movimentações erráticas seriam os ruídos de comunicação. Os meios, por onde circulam as informações, seriam subdivididos em domínios dentro dos quais se formariam padrões de comunicação.
Para exemplificar, Luiz cita a VIDA como um domínio dentro do meio que seria o PLANETA. Acesse agora o vídeo do The American Museum (AMNHorg) - logo a cima, na postagem anterior - para entender a dimensão do meio em que trocamos nossas experiências. Ou acesse o link: http://www.youtube.com/watch?v=17jymDn0W6U
Antes da vida, havia um planeta, em intensa transformação. As variações climáticas extremas pelas quais o nosso planeta passou, resfriamento e aquecimento intensos, produziram resíduos de matérias que sofriam modificações durante esta cadência de alterações do meio frio para o meio quente e vice e versa.
Em um determinado momento, este conglomerado de matéria orgânica passou a se combinar e a reagir seus componentes químicos uns com os outros. Esses organismos que se reagiam inventaram o “truque” de se replicarem. Cópia–repetição–replicação, esta seqüência de acontecimentos produzia gerações após gerações, sempre com pequenas diferenciações, erros. De tempos em tempos as gerações se inovavam.
“Matéria orgânica que se repete e se reinventa representa o surgimento da VIDA!” – afirma Luiz. A vida apareceu na Terra por um processo de associação ritmada entre a escala molecular e as variações do meio, a escala astrofísica. Essas reações em contato com centenas de milhões de anos de transformações na superfície terrestre foram se reinventando e se modificando, assumindo características que a mantivessem vivas, ativas, se adaptando e evoluindo conforme as exigências do meio.
Alcançamos um determinado grau de saturação dessas reações, mas não deixamos de manter a cadência de sínteses dentro de nós. Tanto que Luiz garante que “a cada sete anos, trocamos todos os átonos do nosso corpo, somos fisicamente outros”.
Uma das adaptações microscópicas de maior relevância para a continuidade e diversificação da vida, segundo Luiz, foi a invenção da MEMBRANA. Esta película é a que seleciona os fluxos, “e diz o que o vivo representa”. “A membrana é um meio de comunicação, ela separa, e também conecta, o dentro do vivo do fora do vivo” - explica ele.
Através da seleção desses fluxos que entram, pela membrana, e atingem a parte viva - onde contém os elementos que são capazes de se unir e se repetir, gerando NOVOS vivos – é que a membrana representa, segundo o físico, um presente imóvel, que não anda. Hoje, vivemos um presente móbil, que se movimenta ao longo da linha do tempo, dos dias, das noites, das horas e dos minutos.
- A membrana é um presente imóvel, onde presente e futuro se encontram e o resultado é a modificação da geração passada, ou do seu próprio passado – explica Luiz.
Para ele essas sínteses comunicativas e associações bioquímicas constituíram a primeira REDE DE COMUNICAÇÕES. Esta rede foi decisiva para configurar a DIVERSIDADE de organismos.
Voltando ao início da palestra ele reafirma que VIDA é um domínio de invenções, que “repetir é fazer proliferar as diferenças”.
Ele lembra que na História da Vida houve os ciclos de extinção. “Diferentes se associam numa certa cadência e são submetidos às transformações ambientais dando origem a outros arranjos. Portanto, novas vidas são testadas. Essa estrutura dá origem a uma natureza que descobre as potencialidades das formas naturais.
Vida é o dobramento da matéria sobre si própria. No vídeo Nature By Numbers, acesse pelo link ou na postagem seguinte a esta, podemos perceber como a natureza se recria ao comando de fórmulas numéricas complexas. http://www.youtube.com/watch?v=kkGeOWYOFoA&feature=fvst
O nosso racional, o pensamento impôs nova cadência sobre os ritmos da vida. Matéria – vida e pensamento são também domínios comunicativos. Na visão de Luiz o pensamento é fruto das reações mais complexas e evoluídas das nossas moléculas é “comunicação gerando comunicação, é a comunicação como troca de informações físicas”.
-Se o pensamento é um produto da saturação comunicativa de nosso organismo. Que influência tem esta saturação sobre a contemporaneidade? – pergunta o coordenador do projeto Vinícius Andrade Pereira.
Luiz responde que somos “antologicamente marrentos”, justamente por manipularmos nossa natureza biológica e terrestre, para o bem e para o mal, ao longo do nosso processo evolutivo. “Nos dias de hoje, pensamos na reforma da espécie humana, através da nanotecnologia e lançamos mais gases na atmosfera que os vulcões”.
Este foi o primeiro encontro do projeto Nós Digitais, que procurou analisar as teorias da comunicação a partir do surgimento da vida. Para encerrar, Luiz propõe uma reflexão sobre o futuro e lança uma pergunta no ar:
-Será que o capitalismo vai se estender no tempo?
Até o próximo!
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